O desperdício de matérias-primas é um problema crítico na indústria portuguesa. Quer do ponto de vista da sustentabilidade ambiental, dado o uso de recursos escassos, como do ponto de vista da sustentabilidade financeira, devido aos altos e imprevisíveis custos de produção consequentes. Como tal, a transição para a economia circular, nomeadamente através da otimização e gestão de matérias primas, torna-se um imperativo no mundo industrial.
Reconhecendo esta necessidade, a ALTO – Perfis Pultrudidos desafiou o INEGI a apoiar o reaproveitamento de fibra de vidro, proveniente do desperdício de outros processos, e assim estender a vida útil deste recurso. A empresa, especialista no fabrico de materiais compósitos e processos de pultrusão, contou por isso com o apoio do Instituto para criar um gradil de sarjeta compósito, fabricado a partir da fibra de vidro reaproveitada.
Como explica Rui Mendes, responsável pelo projeto no INEGI, “o processo foi estudado e desenvolvido de forma minuciosa e rigorosa, para criar um produto desta gama, certificável e pronto a ser industrializado”.
Isto exigiu “uma abordagem focada no design for manufacturing (DfM), de modo a facilitar a produção e obter um produto melhor a um custo mais baixo, e um rigoroso calculo numérico de forma a validar o produto perante uma série de normas restritivas (EN 124-1 e EN 124-5) que caracterizam este tipo de produtos”, acrescenta.
A par do desenvolvimento de produto, a equipa do INEGI também desenvolveu uma série de métodos e ferramentas para implementação em fábrica, no processo de fabrico, para viabilizar o reaproveitamento de desperdícios de fibras de vidro.
Para Jorge Silva, engenheiro de desenvolvimento de produto do projeto, o desenvolvimento deste novo produto e respetivo processo com um reaproveitamento de desperdício “trouxe para cima da mesa uma opção alternativa de menor pegada ecológica, que permite à ALTO gerar valor a partir de um recurso que seria considerado desperdício”.
Recorde-se que a ALTO – Perfis Pultrudidos nasceu em 1996 com o conceito de spin-off no INEGI, e desde então têm realizado vários projetos em conjunto, em linha com a aposta de ambos na investigação e inovação na área dos materiais compósitos.